Curioso

Captura de salmão na Lagoa dos Patos surpreende pescadores

Espécie que não faz parte do ecossistema da região foi encontrada em uma rede de pesca na última semana

Divulgação -

As águas doces da Lagoa dos Patos trouxeram uma novidade inesperada para alguns pescadores da Colônia Z-3, em Pelotas, esta semana. A captura de um salmão, espécie inexistente na região, chamou a atenção da comunidade nos últimos dias.

O pescador Rafael Miranda, 42, responsável pela captura inédita, conta que o animal foi encontrado sem vida na rede de pesca de linguado. "Primeiro eu achei que fosse uma carpa. Jamais ia passar pela nossa cabeça que era um salmão", relata. No entanto, histórias sobre a captura de um peixe da mesma espécie em São Lourenço do Sul, na semana passada, levantaram a desconfiança. Para surpresa do pescador, ao cortar o peixe, a característica carne avermelhada do salmão confirmou as suspeitas.

Miranda afirma que já pescou algumas espécies diferentes, como a garoupa, que não é comum na região. No entanto, em mais de 25 anos de pesca, afirma jamais ter visto salmão nas águas da Lagoa dos Patos. "Têm surgido uns peixes diferentes, mas esse foi bem estranho porque ninguém nunca tinha visto." O animal pesava em torno de sete quilos e acabou virando refeição para cerca de 12 pessoas.

O pescador desconfia, ainda, que possam aparecer outros peixes da mesma espécie nos próximos dias. "Pelo que a gente ouve falar, eles andam em grupo. Como já foi pego mais de um, tem a possibilidade de ter outros", especula.

O que diz a ciência
O professor de oceanologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Luís Gustavo Cardoso, confirma que o aparecimento da espécie na lagoa se trata de um fato incomum e, de certa forma, difícil de ser explicado. O salmão é um animal de águas muito frias, bastante presente no Canadá e com criação em outros lugares do mundo. Para o pesquisador, existem três principais hipóteses que poderiam explicar a chegada do animal até a Lagoa dos Patos. "Se for salmão, pode ter alguém criando a espécie em águas interiores do Estado que escapou e acabou na lagoa. É difícil de acontecer, mas não pode ser descartado."

A segunda hipótese seria a vinda do animal de criações em tanques-rede do Oceano Pacífico, na costa do Chile. "Nesse caso, eles teriam que ter feito a volta por todo o Estreito de Magalhães, por baixo da América do Sul. Se for isso, os primeiros relatos do aparecimento da espécie seriam lá no Rio da Prata, em Buenos Aires." Cardoso avalia que o ciclo de vida do salmão, que inclui a passagem da espécie por água doce, poderia explicar a hipótese.

O pesquisador levanta, ainda, uma terceira possibilidade de que o animal se tratava, na verdade, de uma truta salmonada, e não de um salmão. "Se for truta, é mais fácil explicar, porque existe criação de truta na serra de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, que poderiam ter escapado e chegado aqui", explica. Esse tipo de truta é bastante utilizado no preparo de sushis e possui a carne similar à do salmão por conta da utilização de alimentos com corante em sua criação. No entanto, essa hipótese só poderia ser confirmada com a identificação da espécie do animal. "Ele parece mais com um salmão, mas não descarto a possibilidade de ser uma truta", reforça.

Possível ameaça
Enquanto o aparecimento do animal é um fato curioso para a comunidade, sua chegada, para a ciência, também serve de alerta para os riscos de espécies exóticas em ambientes fora de seu habitat. "As nossas espécies evoluíram ao longo de milhões de anos, sem essa espécie desenvolver um papel", observa Cardoso. "Quando se coloca uma espécie com suas próprias características, a gente não sabe o que pode acontecer. Os impactos para as comunidades de peixe local podem ser muito severos."

Se o aparecimento da espécie se tornar comum, a situação pode ser motivo de preocupação. "Isso exigiria muito estudo para entender onde está a fonte e o que precisa ser feito para evitar novos escapes", avalia.

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